Polícia Federal aponta que empresa do 'Rei do Lixo' movimentou R$ 861 milhões em transações suspeitas
- Adauto Cruz
- há 4 dias
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A empresa MM Consultoria Construções e Serviços LTDA, ligada ao empresário baiano José Marcos de Moura — conhecido como "Rei do Lixo" — está no centro de uma investigação da Polícia Federal (PF) por movimentações financeiras suspeitas que somam R$ 861 milhões entre os anos de 2014 e 2025, informa Fabio Serapião, do Metrópoles.
A investigação indica que Moura, investigado desde a primeira fase da operação, realizada em dezembro de 2024, foi beneficiário direto de valores que a PF considera oriundos de desvios de recursos públicos. Em um trecho da representação policial que embasa a terceira fase da operação, os investigadores afirmam que “José Marcos Moura movimentou R$ 80.243.234,45 em operações classificadas como suspeitas, sendo beneficiário direto de recursos desviados. Grande parte desses valores teve origem na MM Consultoria Construções e Serviços LTDA, que sozinha acumulou R$ 861.412.612,79 em transações atípicas”.
Coaf rastreia bilhões - As suspeitas se intensificaram após a Receita Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) compartilharem relatórios de inteligência financeira com a PF. Os documentos apontam que empresas associadas ao grupo investigado movimentaram R$ 12,6 bilhões em créditos e débitos em dez anos. Desse montante, quase R$ 1 bilhão — mais precisamente R$ 999.987.991,01 — foi classificado como “atípico”, com fortes indícios de lavagem de dinheiro.
Além disso, o Coaf identificou saques em espécie que somam R$ 5,1 milhões e ao menos R$ 20 milhões em transações imobiliárias suspeitas entre 2020 e 2024. Moura, como pessoa física, é responsável por cerca de R$ 80 milhões dessas transações.
Elo com parlamentares - A complexidade da rede chamou atenção da Justiça devido ao envolvimento de figuras com foro privilegiado. Em uma das transações listadas pela PF, o valor de R$ 435 mil teve como destinatário uma pessoa com prerrogativa de foro. Também foi identificado que o lobista Gabriel Mascarenhas Sobral, apontado como articulador de liberação de emendas parlamentares, movimentou valores suspeitos em 2022 com outra pessoa com foro privilegiado, possivelmente vinculada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou ao Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com os investigadores, essas transações não foram detectadas inicialmente porque a operação tramitava na primeira instância da Justiça Federal da Bahia. Com o surgimento de indícios que envolvem o deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil-BA), o caso foi remetido ao STF, onde tramita atualmente sob relatoria do ministro Kassio Nunes Marques. Foi ele quem autorizou a terceira fase da Overclean e liberou o acesso da PF às informações sensíveis enviadas pelo Coaf.
Esquema milionário - A Operação Overclean investiga contratos vultosos firmados por empresas vinculadas aos irmãos Alex e Fábio Parente com diversos entes federativos. Uma das companhias, a Allpha Pavimentações, firmou contratos com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), totalizando R$ 150 milhões entre 2021 e 2024. Do total, R$ 67 milhões foram pagos com recursos federais — inicialmente no governo Jair Bolsonaro (PL) e posteriormente no governo Lula (PT). Os pagamentos tiveram origem em emendas do chamado "orçamento secreto".
A deflagração da primeira fase da operação, em 10 de dezembro de 2024, foi precedida por uma ação controlada da PF no dia 3 do mesmo mês. Agentes interceptaram um avião com Alex Parente e Lucas Maciel Lobão Vieira, ex-chefe do DNOCS na Bahia. Com eles, foi encontrada uma suposta "contabilidade clandestina", considerada peça-chave para entender a dimensão do esquema.
Com o avanço das apurações e a quebra de sigilos, a PF chegou à segunda fase da Overclean em 23 de dezembro de 2024. Nessa etapa, foram presos o vice-prefeito de Lauro de Freitas (BA), Vidigal Cafezeiro Neto; o secretário de Mobilidade Urbana de Vitória da Conquista (BA), Lucas Dias; o policial federal Carlos André Coelho, acusado de atuar como operador do grupo; além de outros envolvidos.
Prisões e desdobramentos - José Marcos de Moura e Alex Parente foram presos já na primeira fase da operação, mas obtiveram liberdade pouco tempo depois por decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Na terceira fase, a PF solicitou novamente as prisões, fundamentando o pedido na “gravidade do crime” e no “potencial impacto sobre os cofres públicos”, conforme consta na representação.
Atualmente, cerca de 100 pessoas são investigadas por participação no esquema. O caso segue em tramitação no Supremo Tribunal Federal, com novas frentes de apuração envolvendo autoridades com foro e aprofundamento das suspeitas de lavagem de dinheiro em larga escala.
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