Foi uma terça-feira sinistra refletindo o quadro crítico das rodovias em Minas Gerais
- Adauto Cruz
- 9 de abr.
- 5 min de leitura
Situação trágica da última terça-feira reflete quadro sinistro das rodovias em Minas Gerais

Em menos de 24 horas, dois acidentes violentos em rodovias de Minas Gerais deixaram 14 mortos, incluindo duas crianças, e pelo menos 22 pessoas hospitalizadas, algumas em estado grave. A terça-feira começou com um ônibus capotando na MG-223, no Triângulo Mineiro, matando 11 pessoas. Horas depois, um carro colidiu com uma carreta na BR-040, em Itabirito, matando mais três. Os dois episódios lançam luz sobre uma estatística trágica: somando os dados das esferas estadual e federal, o estado já contabiliza 181 mortes em acidentes nas estradas apenas nos dois primeiros meses do ano.
O acidente mais grave de ontem ocorreu na madrugada, por volta das 3h40, na altura do Km 134 da MG-223, entre Araguari e Tupaciguara, no Triângulo Mineiro. Um ônibus da viação Real Expresso, que havia saído de Anápolis (GO) às 20h30 de segunda-feira com destino a São Paulo, saiu da pista e capotou ao tentar fazer o contorno do trecho conhecido como “Trevo do Queixinho”. Segundo a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o motorista perdeu o controle da direção, atravessou o canteiro central do entroncamento entre as rodovias MG-423 e MG-413 e capotou na alça de acesso. O acidente deixou 11 mortos, entre eles duas crianças com idades entre 2 e 4 anos, e pelo menos 36 feridos.
No veículo de dois andares, modelo semileito, estavam 53 passageiros, além do motorista. Algumas vítimas ficaram presas às ferragens e, esmagadas pelo peso da estrutura, foram resgatadas pelo Corpo de Bombeiros. Vinte e duas pessoas continuam internadas, conforme a última atualização da empresa responsável pelo ônibus, feita na noite de ontem. Os demais foram liberados. O trecho, considerado plano e com boa visibilidade, não tem registro de ocorrências no Painel de Acidentes de Trânsito do Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais, que contabiliza os incidentes nas rodovias estaduais.
Um bebê nasceu após uma cesariana de emergência realizada no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), onde a mãe, gestante envolvida no acidente, segue internada. Além dela, oito pessoas foram levadas em estado grave para o HC-UFU, onde uma das vítimas morreu após dar entrada na unidade. Outros 13 pacientes foram encaminhados à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Araguari, quatro ao Hospital Universitário de Araguari e um para a Santa Casa da cidade. A identidade e o estado de saúde das vítimas, dados resguardados pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), estão sendo informados apenas às autoridades e familiares.
Acidente com carro e carreta fecha BR-356 em Itabirito
O motorista do ônibus sobreviveu e está internado, recebendo, segundo a empresa, acompanhamento psicológico. Ele foi ouvido pela Polícia Civil de Minas Gerais e, após prestar depoimento, acabou liberado. De acordo com a corporação, “não há elementos que justifiquem a sua prisão”. Outras vítimas e testemunhas foram ouvidas ao longo do dia. Os corpos das vítimas continuam no Instituto Médico-Legal (IML) de Araguari, onde os trabalhos de identificação seguiam em andamento na noite de ontem.
Procurada pela reportagem, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que o ônibus estava com a documentação e os cadastros regulares para o transporte interestadual de passageiros. Em nota, a Real Expresso lamentou o ocorrido e reiterou que está prestando todo o suporte necessário às vítimas e familiares, inclusive por meio de um canal de atendimento 24 horas. A viação reforçou que o ônibus estava com a manutenção em dia, seguindo plano de revisões corretivas e preventivas. A empresa garantiu ainda que possui todos os seguros obrigatórios e facultativos e destacou que “tem saúde financeira para oferecer o que for necessário”.
A nota destacou também que, embora a Real Expresso não trabalhe com duplas fixas de motoristas, há revezamento ao longo dos trajetos, o que garantiria, segundo a empresa, “uma qualidade de condução atenta e segura”. “O motorista havia subido no ônibus vindo de casa e descansado”, diz a nota. A empresa afirmou ainda que oferece treinamento, monitoramento e apoio médico especializado em sono para os motoristas, além de manter salas de ativação em suas bases operacionais.
A tragédia provocou a superlotação da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Araguari, que precisou suspender temporariamente o atendimento ao público geral. Em nota, a prefeitura pediu que a população buscasse outras unidades de saúde, exceto em casos de urgência e emergência, a fim de garantir a assistência adequada às vítimas do acidente. O município informou que está mobilizado para prestar suporte aos hospitais da rede pública. "Manifestamos profundo pesar e solidariedade aos familiares e amigos das vítimas deste trágico episódio", disse a prefeitura.
Colisão frontal
Horas depois do desastre na MG-223, outro acidente grave foi registrado na BR-040, em Itabirito, Região Central de Minas. Um Fiat Palio e uma carreta colidiram frontalmente no Km 582 da rodovia, próximo ao Mirante da Serra, no sentido Rio de Janeiro. Três pessoas morreram na hora —todas ocupantes do carro de passeio, duas delas mulheres. Os corpos ficaram presos às ferragens e só foram retirados com o auxílio do Corpo de Bombeiros e da perícia da Polícia Civil. A carreta sofreu danos frontais, mas o motorista não se feriu.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o motorista do carro, que trafegava no sentido Belo Horizonte, “provavelmente dormiu” ao volante. O veículo invadiu a pista contrária e colidiu com a carreta, cujo motorista tentou frear, sem sucesso. "Há apenas sinal de freada no lado da carreta", disse à reportagem do Estado de Minas o agente Marcelo Ramos, da PRF. As três vítimas estavam no carro e morreram na hora, presas às ferragens. Equipes do Corpo de Bombeiros, da PRF, da Polícia Civil e da concessionária EPR Via Mineira, administradora da rodovia, atuaram no resgate, que exigiu o uso de ferramentas hidráulicas para a retirada dos corpos. Com o impacto, o veículo ficou destruído.
Estatísticas
O impacto dos dois acidentes lança luz sobre a realidade crítica da malha rodoviária mineira. O estado tem a maior extensão de rodovias do Brasil, com um volume elevado de tráfego interestadual e intermunicipal nos mais de 272 quilômetros de estradas. E é nas rodovias federais que cortam o estado que os números de acidentes são mais alarmantes. Só nos dois primeiros meses de 2025 foram 115 mortos e um total de 1.813 feridos —muitos deles em ocorrências de grande porte, envolvendo ônibus, caminhões e veículos de passeio. Minas ultrapassou a Bahia e, agora, lidera o ranking nacional de mortes em estradas federais no início deste ano.
Já nas rodovias estaduais, segundo o Painel de Acidentes de Trânsito do Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais, foram 66 mortes, 892 vítimas e 149 internações em estado grave no mesmo período. Somando os dados das esferas estadual e federal, o resultado são 181 mortes apenas em janeiro e fevereiro. Em 2024, o número total de mortos nas estradas mineiras chegou a 2.124.
O histórico de acidentes em Minas reflete uma combinação de fatores estruturais, operacionais e comportamentais, explica Silvestre Andrade, especialista em transporte e trânsito. A precariedade de trechos rodoviários, a falta de sinalização em áreas rurais, a alta densidade de tráfego e a negligência de condutores são apontadas pelo especialista como elementos recorrentes nesses sinistros. “A situação acende alertas para a necessidade de fiscalização mais efetiva e revisão urgente da infraestrutura rodoviária. Também evidencia a importância de políticas públicas voltadas à segurança no transporte coletivo de longa distância, especialmente no que se refere à jornada dos motoristas, à manutenção de veículos e à fiscalização das empresas concessionárias”, avalia.
Andrade aponta que o aumento do tráfego após a pandemia de COVID-19, a precariedade das estradas e a falta de fiscalização contribuem para a escalada das ocorrências de acidentes. "Esse aumento do volume de tráfego e a falta de investimentos na infraestrutura para acompanhar esse crescimento acaba, de certa forma, criando um ambiente propício para esse tipo de ocorrência", aponta. A ausência de faixas adicionais para veículos mais lentos e de duplicações também expõe motoristas a situações perigosas.
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